sexta-feira, dezembro 31, 2010

O tempo nada mais é do que a distância entre as nossas lembranças.
[Henri-Frédéric Amiel]

terça-feira, dezembro 21, 2010

Ninguém conhece as suas próprias capacidades enquanto não as colocar à prova.
[Públio Siro - Sentenças]

quarta-feira, novembro 24, 2010

One red balloon
floats to the moon
just let it fly away
I only know
that I'm longing to go
back to my lazy days

[Roma Ryan/ Enya - Lazy Days]

Imagem: Google Images

segunda-feira, novembro 15, 2010

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.
[Carlos Pena Filho - "Soneto do Desmantelo Azul"]
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Imagem: Lia Belle, Sydney [2010] - The SartoriaList

domingo, novembro 07, 2010

Cuando estoy solo, no estoy.
[Maurice Blanchot - El Espacio Literario]

Imagem: Disordering Order [2004], da ilustradora espanhola Trixis.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Ler é desejar a obra, é pretender ser a obra.
[Roland Barthes - Crítica e Verdade]

Imagem: Sombra [2010], da sul coreana Suzy Lee.

terça-feira, junho 22, 2010

Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 6 de novembro de 1919 - Lisboa, 2 de julho de 2004) foi uma das mais importantes poetisas portuguesas do século XX. Foi a primeira mulher a receber o mais importante galardão literário da língua portuguesa, o Premio Camões, em 1999.

Aqui será postado um dos seus contos, para mim, de pura prosa poética ...

Vila d'Arcos

Vila d'Arcos fica ao Norte, um pouco para Leste, numa região de montanhas. É uma cidade de província e pequena com ruas empedradas em torno da catedral enorme como um navio de eternas viagens. As suas casas antigas - nobres mesmo quando pobres - são proporcionadas com justeza desde o degrau da escada até ao quadrado da janela, desde a balaustrada da varanda até à superfície da parede de granito sem reboco onde só a pedra de armas com arruelas, grifos e leões é grande demais sobre os ferros e as madeiras desconjuntadas da porta; como se no mundo em que estamos nada importasse, nem o frio do granito, nem a estreiteza sombria dos quartos, nem a pobreza monótona dos dias, mas só importasse a nobreza que mostramos à luz e que é o projecto da nossa alma.

É uma cidade antiga onde estagnada se desagrega e se dissolve lentamente uma vida desvivida gesto por gesto, sílaba por sílaba.
Os carros gemem ao longo das ruas empedradas. Passam poucos homens e rápigas mulheres vestidas de preto e em Maio as roseiras florescem nos muros que o Inverno cobriu de musgo. Por trás da portada verde da pequena janela da casa de esquina uma mulher de olhos agudos, muito juntos e castanhos, vê tudo, sábia e arguta, terrivelmente atenta, como se o seu olhar lesse e amparasse o desacontecer das coisas. Há jardins imprevistos, mais subtis e complexos do que o imaginável, onde crescem altas magnólias, com grandes flores brancas de pétalas profundas e largas, macias e espessas e onde a água de prata que irrompe da boca dos golfinhos de pedra cai nos pequenos tanques oitavados. Jardins de buxo, camélias e violetas perfumados de contemplação e paixão, de esquecimento e silêncio. Jardins docemente abandonados a uma solidão dançada pelas brisas, enquanto um longo sussurro de adeus acena de folha em folha nos ramos mais altos das árvores. Jardins onde reconhecemos que a vida é um sonho do qual jamais acordamos, um sonho onde irrompem aparições prodigiosas como o lírio, a águia e o inesquecível rosto amado com paixão, mas onde tudo se transforma em esquecimento, distância, impossibilidade e detrito. Jardins onde reconhecemos que a nossa condição é não saber. É não poder jamais encontrar a unidade. E encontrar a unidade seria acordar.
1982
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Histórias da Terra e do Mar. Lisboa: Salamandra, 1984.